Vinte quilômetros de caminhada por dia para buscar lenha para cozinhar e iluminar a casa. Entrar na mata fechada, correndo o risco de ser atacada por animais. Problemas respiratórios causados pela queima constante da lenha dentro das residências. Essa era a rotina de mulheres do Parque Nacional das Quirimbas, em Moçambique, no sudeste da África.
Algumas habitantes do parque já tiveram essa realidade modificada e desfrutam dos benefícios do recém-implantado sistema de biogás, instalado na comunidade. O biogás é o biocombustível que está sendo gerado no local por meio da transformação de dejetos bovinos e é utilizado para abastecer fogões na preparação de alimentos e na geração de biofertilizantes.
Bachir Afonso, líder comunitário da região, foi o responsável por – após trinta dias de treinamento na empresa brasileira CIBiogás, em Foz do Iguaçu – construir todo o sistema de geração de biogás do local, onde cerca de 95% das pessoas ainda não têm acesso à energia térmica e elétrica.
Para ele, o biogás é a solução perfeita, pois além de gerar energia, retira do meio ambiente dejetos e esgoto, reduzindo odores e a infestação de insetos e roedores, que podem causar doenças como a cólera e a malária. “Além disso, é uma energia sustentável e responsável. Por isso, é absolutamente viável, principalmente por estarmos em uma área de conservação ambiental”, ressalta.
O engenheiro eletricista do CIBiogás, João Carlos Zank, acompanhou aqui do Brasil todo o processo de instalação por meio de um aplicativo de bate-papo. “Após 160 horas de aulas teóricas e práticas e visitas às nossas unidades de demonstração de produção de biogás, no Oeste do Paraná, Bachir voltou para a África com inúmeros desafios. Trocamos muitas informações técnicas, para que nada pudesse dar errado. Depois de quatro meses de testes, tivemos o primeiro resultado: a geração de energia térmica”, afirma. Para ele, essa é a maior motivação para seu trabalho: mudar a vida das pessoas.
A energia gerada na região poderá contribuir para o desenvolvimento de toda a comunidade, desde o impulso na agricultura até a melhoria de qualidade de vida. O próximo passo é que dejetos humanos também sejam transformados em energia, sendo uma possível solução para o problema da falta de saneamento básico no local.
O poder do biofertilizante
Além da energia térmica gerada, a comunidade também está usufruindo dos benefícios do uso do biofertilizante, obtido na transformação dos dejetos de animais em biogás.
Por meio de sua aplicação, foi possível aumentar e diversificar a produtividade de alimentos da região. “No meu terreno, agora eu produzo cebola, alface, couve, repolho e tomate. Jamais imaginamos colher essas hortaliças, pois a terra é fraca e arenosa. Isso só foi possível com a aplicação desse biofertilizante”, afirma Ancha Assane, moradora de uma das aldeias do Parque Nacional . Ela pretende – a partir de agora – garantir a plantação de alimentos para sua família, também comercializar os produtos.
Fonte: CIBiogás