Um condomínio composto por 33 pequenos produtores rurais que geram energia por meio de dejetos de animais e resíduos agrícolas e que juntos são capazes de abastecer cerca de 42 casas brasileiras, com uma média de três moradores. O projeto – conhecido como Ajuricaba – que deu certo em Marechal Rondon, no Oeste do Paraná, agora está sendo replicado no sul do Uruguai.
Segundo o diretor-presidente do CIBiogás (Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás), Rodrigo Regis de Almeida Galvão, que foi ao país vizinho para acertar detalhes da implantação, a lógica será replicada em uma área que tem muito em comum com o agronegócio brasileiro. “A região de San José é a principal produtora de leite do Uruguai, o que faz com que a criação de gado seja fundamental para a economia local. Contudo, eles convivem com o problema da grande quantidade de dejetos desses animais. Isso impede a expansão das atividades da região e causa uma série de consequências ambientais”, explica.
Ainda em 2015, será finalizada a primeira – de quatro fases do projeto – em que seis propriedades rurais já gerarão eletricidade. Após concluído as demais etapas de implantação, serão 20 propriedades produzindo biogás através da transformação dos dejetos do gado, que poderão abastecer o consumo de energia elétrica de mais de 180 residências. Esse biocombustível também é gerado por meio do dejeto de animais. “Já apresentamos ao Uruguai uma proposta de gestão financeira para a implantação e o projeto de gestão de risco, que propõe uma forma para que todas as ações sejam implantadas corretamente”, complementa.
Para a diretora-geral de desenvolvimento de San José, Mercedes Antía, a iniciativa apresenta inúmeros benefícios. “Não é somente uma projeto de energia, é um projeto ambiental, que irá trazer novas possibilidades para região. Por isso, estamos abraçando essa oportunidade com muito entusiasmo pelo impacto que isso terá no futuro”, explica.
Como funciona
Em cada propriedade, dejetos da produção agropecuária (gado) são transferidos para biodigestores, para produção de biogás. Os biodigestores estarão conectados à uma microcentral por meio de um gasoduto de 37 quilômetros de extensão. Já a matéria orgânica residual do biodigestor pode ser transformada em biofertilizantes.
Além de gerar energia, o biogás produzido nas propriedades pode ser usado internamente, como, por exemplo, para cozinhar ou aquecer a água que higieniza o sistema de ordenha.
A proposta de gerar energia com biogás em condomínios, em que biodigestores são conectados por um gasoduto a uma só central geradora, é genuinamente brasileira. Na Europa, são feitos grandes biodigestores, para os quais são transportados dejetos.